O jogo da política
Pensando bem, se este fosse um país sério, mas
sério mesmo (como esperava o general Charles De Gaulle), nossos políticos
deveriam ser escolhidos por meio do futebol. Um campeonato entre os partidos.
Hein?
A torcida, a militância. Em vez de votos, gols.
Conflitos de rua, batalhas campais, farpas trocadas em redes sociais – tudo
isso já consta no domínio tanto de torcedores quanto de militantes. Corrupção,
fraude, simulação? Patrocínios bilionários? Partidos e clubes de futebol não
vivem sem. Quanto à corrupção, foi a presidente mesma quem disse que em todo
partido há corruptos, sem exceção.
Na verdade, a escolha de um governante só não é
desse jeito porque não saberíamos como lidar com a segurança em campo. Imagine
uma grande finalíssima entre o time de Dilma e o de Aécio enfrentando-se no
gramado. Disputa no pênalti. Teria de haver, pelo menos, um juiz para cada
jogador. E um policial do Bope. Seria complicado de se verem umas duas dezenas
de juízes e policiais disputando espaço, sem se esbarrarem, a fim de se manter
a integridade física dos jogadores, com seus fígados, olhos e dentes intactos,
todos em seu devido lugar.
Na disputa, pela intermediação do futebol, ao
menos seria menor o risco da fraude, ali, um estádio cheio de torcedores-militantes
e a imprensa de olho, sem falar nos drones. E os capitães dos partidos, seus
candidatos, poderiam ser xingados naturalmente como os juízes de futebol sempre
foram – a presidente não precisaria mais ficar encabulada no camarote de um
estádio.
Por outro lado, esta seria uma verdadeira prova
de contenção, de sublimação dos instintos, demonstrar que é possível muito bem
disputar uma bola sem um arrancar a canela do outro. E os dribles, as fintas, as
jogadas individuais criativas seriam o equivalente aos debates televisivos, que
são monótonos, há muita segurança nos estúdios, fica difícil de os candidatos
relaxarem, se soltarem e fazer o que gostariam de fazer, de coração: se atracar
e tentar torcer o pescoço do outro. Ademais, reproduzir discursos bonitinhos
garimpados por uma equipe de marqueteiros superpoderosos é mole. Quero ver é
entrar em campo e fazer bonito. Isso sim nos provaria que o comando do país
estaria em boas mãos, quer dizer, em bons pés. Romário é prova de que um
jogador de futebol pode fazer bonito no parlamento. Então, o contrário também é
possível: o político fazer bonito em campo.
Este seria o caso de o sucesso vir na frente do
mandato, em seu início, e não ao fim. Eleitores-militantes começariam o ano
satisfeitos com o campeonato, aproveitando quatro anos para zoar dos
perdedores. Se o governo será bom ou ruim, não é importante. O que importa é bola
na rede. O sucesso do governo depende da sua vitória nas eleições
exclusivamente.
Pensando bem, enquanto alguma coisa aqui for
tratada sem a nossa referência maior e sagrada do futebol, será sempre motivo
de suspeita. Jamais será uma coisa séria.
Fala sério.
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