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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

PENSANDO BEM
O jogo da política
 

Pensando bem, se este fosse um país sério, mas sério mesmo (como esperava o general Charles De Gaulle), nossos políticos deveriam ser escolhidos por meio do futebol. Um campeonato entre os partidos. Hein?

A torcida, a militância. Em vez de votos, gols. Conflitos de rua, batalhas campais, farpas trocadas em redes sociais – tudo isso já consta no domínio tanto de torcedores quanto de militantes. Corrupção, fraude, simulação? Patrocínios bilionários? Partidos e clubes de futebol não vivem sem. Quanto à corrupção, foi a presidente mesma quem disse que em todo partido há corruptos, sem exceção.

Na verdade, a escolha de um governante só não é desse jeito porque não saberíamos como lidar com a segurança em campo. Imagine uma grande finalíssima entre o time de Dilma e o de Aécio enfrentando-se no gramado. Disputa no pênalti. Teria de haver, pelo menos, um juiz para cada jogador. E um policial do Bope. Seria complicado de se verem umas duas dezenas de juízes e policiais disputando espaço, sem se esbarrarem, a fim de se manter a integridade física dos jogadores, com seus fígados, olhos e dentes intactos, todos em seu devido lugar.

Na disputa, pela intermediação do futebol, ao menos seria menor o risco da fraude, ali, um estádio cheio de torcedores-militantes e a imprensa de olho, sem falar nos drones. E os capitães dos partidos, seus candidatos, poderiam ser xingados naturalmente como os juízes de futebol sempre foram – a presidente não precisaria mais ficar encabulada no camarote de um estádio.

Por outro lado, esta seria uma verdadeira prova de contenção, de sublimação dos instintos, demonstrar que é possível muito bem disputar uma bola sem um arrancar a canela do outro. E os dribles, as fintas, as jogadas individuais criativas seriam o equivalente aos debates televisivos, que são monótonos, há muita segurança nos estúdios, fica difícil de os candidatos relaxarem, se soltarem e fazer o que gostariam de fazer, de coração: se atracar e tentar torcer o pescoço do outro. Ademais, reproduzir discursos bonitinhos garimpados por uma equipe de marqueteiros superpoderosos é mole. Quero ver é entrar em campo e fazer bonito. Isso sim nos provaria que o comando do país estaria em boas mãos, quer dizer, em bons pés. Romário é prova de que um jogador de futebol pode fazer bonito no parlamento. Então, o contrário também é possível: o político fazer bonito em campo.

Este seria o caso de o sucesso vir na frente do mandato, em seu início, e não ao fim. Eleitores-militantes começariam o ano satisfeitos com o campeonato, aproveitando quatro anos para zoar dos perdedores. Se o governo será bom ou ruim, não é importante. O que importa é bola na rede. O sucesso do governo depende da sua vitória nas eleições exclusivamente.

Pensando bem, enquanto alguma coisa aqui for tratada sem a nossa referência maior e sagrada do futebol, será sempre motivo de suspeita. Jamais será uma coisa séria.

Fala sério.

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