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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

 
 
QUEM NÃO COLA NÃO SAI DA ESCOLA
A farsa da CPI

Naquele dia, a classe faria prova de história. A garotada estava aflita, pois o professor tinha fama de rigoroso e exigente; já reprovara muitos alunos em sua vida, sem dó. Nem se importava com as orientações da direção do colégio, de amenizar o rigor, afinal, a história será sempre uma construção com elementos subjetivos, nela entrando o ânimo particular do narrador, onde devem ser consideradas as circunstâncias da época em que se narra.

Mas, não tinha jeito: o professor entregaria a prova naquele dia, e que todos se preparassem. Joãozinho não se preparou. Ou melhor, preparou, sim, papeizinhos com escrita de letras bem miúdas - a cola. O rapaz dizia, aos amigos, que não se tratava de cola, porém, de alguns lembretes para a hora do exame, coisa que estudara em casa, mas, a memória... Cabiam na palma da mão, dentro do estojo, na meia, no cantinho do tênis.

Dizem que Joãozinho pervertera o caráter depois que um tio passou a morar com a família, os pais saíam de casa, e o tio (só tinha o primário) ensinava coisas erradas para o menino. Adorava ligar a TV, no noticiário, e dizer:

- Ó! Tá vendo!

O sobrinho cresceu aprendendo a lição da dureza da realidade. Descobriu muito cedo que o mundo não era um mar de rosas; talvez um mar de ressaca, mas nunca de rosas. O tio dizendo sempre ao rapaz que a verdadeira escola era a vida, que diploma de colégio e faculdade é apenas uma formalidade, objeto de gaveta ou para servir de quadro na parede. O que valia mesmo era a experiência de vida. E no mundo real, manda quem é rico, e enriquece quem é esperto. É esperto quem engana. O mundo é uma ilusão, um engodo. Querer mudar isso é pura pretensão, soberba, chega a ser um pecado. Daí, que enganar, além de ser o certo, ainda era uma virtude, posto que seja uma ação compatível com o resto da normalidade vigente. Joãozinho cresceu ouvindo esse tipo de coisa.

E no dia do trabalhador, a escola fez uma festa comemorativa. Os alunos eram chamados à frente do pátio, perante professores e familiares, para dizerem o que pensavam ser quando crescessem. Foi possível até se fazer uma estatística: 35% desejavam ser médicos; 25%, dentistas. Quinze por cento queriam ser empresários, e o restante estava na dúvida. Na verdade, metade queria ser jogador de futebol, e a outra metade, tocar pagode, porém a escola não permitiu essas opções.

Mas, Joãozinho se destacou, diante de todos, não entrando em estatística nenhuma. Para espanto geral, quando chegou sua vez, respondeu convicto e com um brilho nos olhos:

- Senador. Eu quero ser Senador da República.

E o tio não conseguiu esconder a satisfação, pulava no meio da multidão atônita, gritando "Meu sobrinho! É meu sobrinho!"

 
 

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